quarta-feira, 15 de junho de 2016

Tales de Mileto

Água como princípio natural

Tales foi principalmente conhecido pelas suas proezas como astrônomo prático, geômetra, e sábio em geral. A predição que fez do eclipse foi provavelmente possível graças à utilização dos registros babilônicos, obtidos, talvez, em Sardes; é também provável que tenha visitado o Egito. A sua teoria de que a terra flutua na água foi derivada, segundo parece, dos mitos cosmogônicos do Próximo-Oriente, talvez diretamente; a água como origem das coisas fazia também parte desses mitos, mas fora já mencionada num contexto grego muito antes de Tales. O desenvolvimento que Tales deu a este conceito pôde, em si mesmo, apresentar-se aos olhos de Aristóteles como garantia suficiente para afirmar que Tales considerava a água como arché (ἀρχή; origem), no sentido peripatético de substrato permanente. Contudo, Tales podia efetivamente ter reconhecido que, sendo a água essencial para a subsistência das plantas e da vida animal — desconhecem-se os argumentos meteorológicos por ele empregados — ela permanece ainda como constituinte básico das coisas. Embora estas ideias fossem profundamente afetadas, direta ou indiretamente, por precedentes mitológicos, o que é certo é que Tales abandonou as formulações míticas; isto, por si só, justifica a afirmação de ter sido ele o primeiro filósofo, por muito ingênuo que fosse ainda o seu modo de pensar. Além disso, ele notou que mesmo certas espécies de pedras podiam ter uma capacidade limitada de movimento e, por conseguinte, pensava ele, de alma transmissora de vida; o mundo como um todo estava consequentemente, de certo modo penetrado (embora, como é provável, não completamente) de uma força vital que, devido ao seu alcance e persistência podia naturalmente ser chamada divina. Se ele associou esta força vital à água, origem e talvez constituinte essencial do mundo, é fato de que não temos noticia.